segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Um buraco no tecido do Universo - um breve ensaio sobre nossa pequenez

É possível ao ser humano chegar, algum dia, a um entendimento verdadeiramente profundo acerca da cosmológica trama que forma o tecido do universo?

Nada parece ter fim, nada é simples, tudo demonstra uma profundidade e amplitude inalcançáveis –ou mesmo inimagináveis.

Cada destes próximos itens carrega este mistério:
  • As leis que sustentam a vida e sua evolução;
  • As leis e forças que sustentam o mundo material;
  • As energias da natureza – conhecidas e desconhecidas;
  • Tudo que existe, existiu e existirá – em todo espaço/tempo;
  • A estrutura mais profunda do universo;
  • Os multiversos.
Através da pesquisa científica estamos avançando no conhecimento da natureza e, quanto mais aprendemos, maior é a percepção de distanciamento de uma realidade última. Na verdade, o conhecimento nos dá uma pequena amostra de quão complexo é o Todo, e em resumo é só isso mesmo, sem possibilidade de ser diferente neste éon.
No fundo, é a luz hipnotizante de um pequeno furo que vamos (vagarosamente) construindo no tecido do Universo, e este vislumbre de uma luz mais clara que bilhões de sóis nos fascina, anima e guia para seguir em frente, como insetos atraídos pela claridade!

"No coração de toda realidade existe uma pergunta, e não uma resposta. Quando examinamos os recessos mais profundos da matéria ou a fronteira mais remota do universo, vemos, finalmente, o nosso próprio rosto perplexo nos devolvendo o olhar”. John Wheeler.


















E uma magnificação alarga estas questões: partindo do reino do muito (muito) grande para adentrar ao reino do muito (muito) pequeno, os invisíveis mundos microscópicos revelam "outro Cosmos" de grandeza comparável ao macro Universo.
De qualquer subatômico ponto, emergem novas e estranhas leis; uma outra dimensão, onde o conhecimento físico clássico – acumulado através dos séculos – pouco valem, pequeno quantum de realidade que são.

Haverá limite para este zoom revelador? Ou este é mais um ato que nos leva ao estonteante conceito do infinito? Um ponto selecionado dentro de outro ponto, se ampliado, descortina um novo universo?

Noutra e não menos inquietante questão, olhamos para cima e nos perguntamos quantas civilizações e inteligências, Cosmos afora, também estão olhando o infinito e, dentro de si, compartilhando idênticos anseios e fazendo estas mesmas perguntas? Algum dia conversaremos?

Ciência – a mais avançada criação humana – tenta trazer um mínimo de entendimento a estas questões. Através dela, desenvolvemos equipamentos, alguns deles engenhosas extensões de nossos sentidos; outros, equivalendo a novas ferramentas sensoriais, pois perscrutam inacessíveis energias e as traduzem.

Também criamos hipóteses, modelos, teorias e equações científicas que contêm, em elegante contração, a síntese do que conseguimos apreender da parte mas acessível do todo, em uma beleza surpreendente que traz encanto ao espírito humano que cultivou a sensibilidade necessária para contemplá-las.

Séculos de curiosidade ansiosa, quase desesperada – mas altamente (re)compensadora.

Ambicionamos, enfim, ver o que está além das fronteiras do Cosmos, sentir o coração do Universo, ouvir os ecos da criação, compreender os mistérios da vida!

Estes somos nós.

O Universo emana beleza, mistério e conhecimento, como a nos desafiar: "decifra-me ou te devoro, povo da Terra".

Isolados num ínfimo ponto numa esquina da Via Láctea, nos sentimos sós... é a solidão cósmica de uma raça que mora em uma linda ilha, mas perturbadoramente silenciosa!

Em tudo isso há um fato fascinante e ao mesmo tempo desalentador: todos os nossos sentidos, toda nossa tecnologia, todo o conhecimento acumulado durante a saga humana no palco desta silicata rocha chamada Terra, são infinitamente pequenos diante da imensurável grandeza do Universo e dos infindáveis segredos que ele guarda.

Confessemos essa condição, em reverência realista: o cérebro humano – repleto de crenças limitantes e vivendo na tridimensionalidade, tendo como ferramentas paupérrimas sondas sensoriais para seguir em frente na busca por respostas – carrega um átimo do processamento neural necessário para esta compreensão.

Em resumo, nós, humanos, com toda nossa curiosidade mamífera e toda parafernália tecnológica, estamos apenas tentando, vagarosamente, abrir um pequeno buraco no tecido da realidade.

Então, tendo diante de nós este minúsculo  furo – feito com persistência secular e a contribuição de inúmeras mãos – podemos apenas encostar os olhos e dar uma espiadela, e colocar ali a ponta dos dedos e da língua e os agitar freneticamente no escuro, tentando desesperadamente recolher uma migalha de informação – e isso é tudo que podemos fazer diante de nossas inquietantes limitações.

"Não sei o que possa parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço apenas ter sido como um menino brincando à beira-mar, divertindo-me com o fato de encontrar de vez em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente por descobrir à minha frenteIsaac Newton.

Ter ciência de tudo isso e de que, desta maneira, só podemos e poderemos apreender um infinitésimo do todo, ao mesmo tempo que fascina, dói – pois nos percebemos encarcerados na prisão inescapável de nossa própria pequenez.


Magnificação
Junho, 2014
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Um vídeo fascinante e que ilustra o acima escrito:

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